As mudanças climáticas têm efeitos profundos não apenas no ambiente externo, mas também se infiltram em nossos espaços internos, afetando a qualidade do ar que respiramos diariamente.
A conexão entre o clima global em transformação e a poluição do ar interior é uma preocupação crescente que abrange desde os poluentes derivados de fontes externas até a contaminação gerada dentro de nossas próprias casas e locais de trabalho.
À medida que o planeta continua a aquecer, enfrentamos uma série de desafios que podem comprometer a saúde respiratória e cardiovascular das populações.
Poluição do Ar Externa
As mudanças climáticas estão alterando as condições meteorológicas, incluindo temperatura e precipitação, o que tende a aumentar os níveis de ozônio ao nível do solo e material particulado. De acordo com um estudo publicado na Environmental Research Letters, a elevação das temperaturas e a intensificação de eventos climáticos extremos, como ondas de calor, podem exacerbar a formação de ozônio ao nível do solo, um poluente nocivo que agrava doenças respiratórias e cardiovasculares. O material particulado (PM), especialmente as partículas finas (PM2.5), também tende a aumentar em condições mais secas e quentes, conforme observado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Esses poluentes podem entrar nos edifícios através de portas e janelas abertas, bem como pelos sistemas de ventilação, aumentando a exposição interna.
Poluição do Ar Interna
O aumento da poluição do ar externa piora ainda mais a qualidade do ar interno, pois os edifícios mal ventilados acabam concentrando em seu interior poluentes como ozônio e material particulado, que se combinam com poluentes gerados internamente, como compostos orgânicos voláteis (COVs) emitidos por materiais de construção e produtos de limpeza. Estudos indicam que a qualidade do ar interno pode ser significativamente pior que a externa devido a essa combinação de fatores. Poluentes internos são associados a uma série de problemas de saúde, incluindo doenças cardíacas e respiratórias, como asma.
Fumaça de Incêndios Florestais
As mudanças climáticas têm levado a um aumento na frequência e na duração dos incêndios florestais. A fumaça desses incêndios contém uma mistura complexa de partículas finas, monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis. De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA), a exposição à fumaça de incêndios florestais pode agravar condições respiratórias, como asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Além disso, a fumaça pode viajar grandes distâncias, afetando a qualidade do ar em regiões distantes dos incêndios, como demonstrado por estudos sobre o transporte de poluentes atmosféricos.
Alérgenos Aéreos
Com as mudanças climáticas, espera-se que as estações de primavera e verão sejam mais longas e com início mais precoce. O aumento das temperaturas e das concentrações de dióxido de carbono estimula o crescimento de plantas que produzem pólen, como gramíneas, árvores e ervas daninhas. Segundo a American Academy of Allergy, Asthma & Immunology (AAAAI), esses fatores podem levar a um aumento na quantidade de pólen no ar e prolongar a estação de alergias, exacerbando condições como a asma. Estudos mostram que os níveis de pólen já estão aumentando em várias partes do mundo, correlacionando-se com o aumento das temperaturas globais.
Crescimento de Fungos
O aumento da temperatura e da umidade devido às mudanças climáticas cria condições ideais para o crescimento de fungos, como o mofo. A umidade pode se acumular em edifícios, especialmente em áreas mal ventiladas, levando à proliferação desses fungos. Esses organismos liberam esporos no ar, que podem ser inalados e causar problemas de saúde. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a exposição a fungos está associada a alergias, asma e infecções respiratórias em indivíduos imunocomprometidos. Além disso, os fungos podem degradar materiais de construção, liberando compostos orgânicos voláteis que contribuem para a poluição do ar interno.
Como melhorar a Qualidade do Ar Interno
As mudanças climáticas e os consequentes impactos negativos na qualidade do ar, tanto interno quanto externo, exigem a adoção de medidas eficazes para garantir ambientes internos saudáveis. A seguir, são apresentadas diversas estratégias e tecnologias para mitigar esses impactos:
Controle de Umidade
Manter os níveis de umidade entre 40% e 60% é crucial para prevenir o crescimento de fungos. O uso de desumidificadores em áreas propensas à umidade, como porões, banheiros e cozinhas, pode ajudar significativamente. Além disso, assegurar uma ventilação adequada é essencial para reduzir a umidade acumulada.
Filtros HEPA
Os filtros de ar de alta eficiência (HEPA) são amplamente reconhecidos por sua capacidade de remover pelo menos 99,97% das partículas de 0,3 micrômetros de diâmetro. Estes filtros são eficazes na captura de poluentes como pólen, esporos de fungos, ácaros e material particulado fino (PM2.5). A instalação de purificadores de ar equipados com filtros HEPA em residências e locais de trabalho pode melhorar significativamente a qualidade do ar interno.
Tecnologia ActivePure
A tecnologia ActivePure é uma inovação no campo da purificação do ar que utiliza um processo baseado em oxidação avançada para eliminar contaminantes no ar e em superfícies. Este sistema emprega uma combinação de luz UV e um catalisador patenteado para produzir moléculas oxidantes que destroem vírus, bactérias, fungos e outros poluentes em nível molecular, sem que eles precisem passar pelos filtros do sistema de ventilação. Ou seja, funciona de maneira mais rápida e eficiente que um filtro HEPA, por exemplo.
Monitoramento da Qualidade do Ar
O uso de sensores e sistemas de monitoramento da qualidade do ar pode ajudar a identificar e responder rapidamente a problemas de poluição do ar interno. Dispositivos que medem a concentração de COVs, PM2.5, dióxido de carbono (CO2) e outros poluentes fornecem dados em tempo real, permitindo ajustes imediatos nos sistemas de ventilação e purificação para manter um ambiente saudável.
Conclusão
Mitigar os impactos negativos que as mudanças climáticas exercem sobre a qualidade do ar interno requer uma abordagem multifacetada que inclui o controle da umidade, a implementação de tecnologias avançadas de tratamento do ar e a manutenção regular dos sistemas de ventilação. Adotar essas medidas se faz cada vez mais necessário diante de um cenário de incertezas climáticas.
Fontes:
https://www.epa.gov/wildfire-smoke-course
https://www.who.int/publications/i/item/9789289041683
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2352710218300868
https://www.aaaai.org/global/climate-change-and-allergy