Por Nelzair Vianna, PhD
Este boletim mensal da Ecoquest/MOFOPRO é dedicado à discussão de um estudo de suma importância publicado no Jornal da Associação Americana de Higiene Industrial, o qual investiga profundamente a relação entre os materiais de construção utilizados em edificações e os níveis de fungos presentes no ambiente interno.
A pesquisa, meticulosamente conduzida por P.J. Ellringer, K. Boone e S. Hendrickson, lança luz sobre como a escolha dos materiais de construção pode influenciar significativamente a saúde dos ambientes internos, destacando a necessidade de uma seleção criteriosa para promover espaços saudáveis e sustentáveis.
Introdução
O estudo centra-se em uma análise detalhada que identifica como diferentes materiais de construção, incluindo gesso, fibra de vidro e carpetes, podem contribuir para a proliferação de fungos em espaços fechados. Este aspecto é particularmente enfatizado através da investigação de um caso específico: um hotel de sete andares recém-construído com 170 quartos.
Apesar de ser uma edificação moderna, este hotel enfrentou sérios desafios relacionados à contaminação fúngica, o que resultou na recusa da concessão do habite-se pelas autoridades locais de construção, destacando a complexidade e a gravidade do problema.
Metodologia e Resultados
Através de um rigoroso processo de coleta de dados e análise, os autores examinaram as condições internas do edifício, identificando níveis de fungos significativamente elevados, até 50 vezes maiores do que os níveis encontrados no ambiente externo.
Este aumento alarmante foi correlacionado ao uso inadequado de materiais específicos na construção, como gesso e fibra de vidro, os quais, sob condições de umidade elevada, tornaram-se substratos propícios para o crescimento fúngico.
Um dos achados mais significativos da investigação foi a identificação predominante do fungo Penicillium nos materiais de construção e no ar interno, o que indicou uma infestação generalizada e a necessidade de intervenções imediatas.
O estudo detalhou que, após a remoção e substituição dos materiais contaminados por alternativas mais adequadas, houve uma queda notável nos níveis de fungos, alcançando valores inferiores a um quarto dos níveis externos.
Discussão
Este estudo coloca em evidência que a escolha de materiais como gesso, fibra de vidro e, especificamente, carpetes – que não haviam sido suficientemente enfatizados em análises preliminares – podem ter implicações diretas na qualidade do ar interno devido à sua capacidade de reter umidade e promover o crescimento fúngico.
A investigação também aponta para a importância de práticas construtivas adequadas, como a correta elevação do gesso do solo, para evitar a captação de umidade de materiais de alvenaria, um fator crítico para a prevenção da contaminação fúngica.
Conclusões e Recomendações
A pesquisa conclui enfatizando a necessidade de uma escolha consciente de materiais de construção, que leve em consideração não apenas aspectos estéticos e de durabilidade, mas também o impacto potencial na saúde dos ocupantes.
A utilização de barreiras contra umidade e a preferência por materiais resistentes, como o gesso verde, são recomendadas como medidas preventivas eficazes. Estas estratégias são consideradas cruciais, uma vez que os custos associados à implementação são mínimos em comparação com os custos significativos envolvidos na mitigação de infestações fúngicas, que, no caso estudado, ultrapassaram um milhão de dólares.
Implicações para a Saúde Pública
Além dos problemas estruturais, o boletim também aborda as implicações para a saúde pública associadas à exposição a ambientes internos contaminados por fungos, incluindo problemas respiratórios, irritações de pele e olhos, reações alérgicas e, em casos mais severos, infecções fúngicas sistêmicas.
A pesquisa sublinha a importância de medidas adequadas de prevenção e limpeza para mitigar esses riscos à saúde em ambientes construídos.
Reflexões Finais
Ao apresentar este estudo, o boletim não apenas responde a questões críticas sobre a relação entre materiais de construção e a qualidade do ar interno, mas também incentiva uma reflexão mais ampla sobre práticas de construção sustentáveis e responsáveis.
Levanta-se a necessidade de uma abordagem integrada que envolva construtores, arquitetos, pesquisadores e profissionais de saúde pública no desenvolvimento de estratégias eficazes para promover ambientes internos seguros e saudáveis.
Este boletim representa um passo importante na disseminação de conhecimento crítico necessário para enfrentar os desafios associados à contaminação fúngica em edificações, enfatizando a importância de escolhas conscientes e práticas sustentáveis na construção civil para a promoção da saúde pública e do bem-estar.