Aspergilose Pulmonar Invasiva em Contexto Viral: Coinfecções Críticas com Influenza e COVID-19 e a Relevância da Qualidade do Ar em Ambientes Hospitalares

10 de junho de 2025

Por Dra. Nelzair Vianna, PhD

Pesquisadora em Saúde Pública da Fiocruz

Artigo de referência:

“Invasive pulmonary aspergillosis associated with viral pneumonitis”

Current Opinion in Microbiology (2021)

Dewi et al.

 

Introdução

A aspergilose pulmonar invasiva (IPA) tem emergido como coinfecção relevante em pacientes com pneumonites virais graves, particularmente associadas a influenza (IAPA) e COVID-19 (CAPA). Diferentemente da IPA clássica, observada em imunossuprimidos, essas formas se manifestam em pacientes sem imunodeficiência de base, mas submetidos a internação prolongada, ventilação mecânica e lesão alveolar aguda.

Tais pneumonites comprometem as barreiras epiteliais e modulam negativamente a imunidade inata, reduzindo a função fagocítica de neutrófilos e macrófagos alveolares. Essa desregulação cria um microambiente favorável à invasão fúngica por Aspergillus spp.

O estudo de Dewi et al. aponta taxas de mortalidade entre 35% e 60% para CAPA, e ainda superiores em IAPA quando há atraso diagnóstico. Essas coinfecções agravam significativamente o prognóstico clínico e impõem novos desafios ao manejo de pacientes críticos.

Objetivo do Estudo

O artigo investigou a associação entre pneumonites virais e IPA, enfatizando aspectos fisiopatológicos, dificuldades diagnósticas e possibilidades terapêuticas, com destaque para intervenções imunomoduladoras.

 

Relevância da Qualidade do Ar para a Suscetibilidade à Aspergilose em Pneumonites Virais

Ao correlacionar os achados do estudo com fatores ambientais, especialmente a qualidade do ar em ambientes hospitalares, reforça-se o papel determinante do ar interior como vetor e amplificador de risco para IPA.

 

Aerodispersão de Esporos Fúngicos

Aspergillus fumigatus produz conídios de 2–3 μm que permanecem suspensos no ar e são facilmente inalados até os alvéolos. Ambientes com alta carga de partículas (PM2.5 e PM10), como UTIs com ventilação deficiente, promovem maior exposição ocupacional e hospitalar aos esporos.

 

Pacientes Críticos como População de Alto Risco

A integridade epitelial comprometida por infecções virais graves torna o sistema respiratório mais vulnerável. Ambientes contaminados — por falhas em sistemas de filtragem HEPA, obras civis ou má manutenção de HVAC — são potenciais fontes de surtos nosocomiais de aspergilose.

 

Poluentes e Inflamação Pulmonar

Poluentes atmosféricos (NO₂, ozônio, particulados) induzem inflamação crônica, aumentam a permeabilidade epitelial e prejudicam o clearance mucociliar. Esses efeitos sinérgicos mimetizam e amplificam os mecanismos descritos para CAPA, elevando o risco de invasão fúngica.

Efeito Sinérgico das Mudanças Climáticas

A elevação da temperatura e da umidade ambiente favorece a proliferação fúngica e a emergência de cepas resistentes a triazóis. O cenário atual combina fatores ecológicos, sanitários e hospitalares que contribuem para o aumento da IPA em contextos virais.

 

Recomendações Estratégicas Intersetoriais

SetorEstratégia Recomendada
Hospitais e UTIsInstalação e manutenção sistemática de filtros HEPA; controle rigoroso de obras
Saúde Pública UrbanaMonitoramento contínuo da qualidade do ar em áreas densamente povoadas
Edificações PúblicasAdoção de ventilação natural cruzada e controle de umidade interna
Gestão AmbientalRegulação de triazóis agrícolas e mitigação de fontes emissoras industriais
Vigilância EpidemiológicaIntegração entre sistemas de monitoramento da qualidade do ar e alertas fúngicos

Conclusão

A aspergilose pulmonar invasiva associada a pneumonites virais é uma entidade clínica emergente de alto impacto. A qualidade do ar, frequentemente negligenciada como fator de risco, deve ser considerada componente crítico na prevenção e controle da IPA.

Os dados reforçam a necessidade de estratégias integradas entre setores de saúde, engenharia, urbanismo e meio ambiente. A abordagem da IPA deve transcender os muros hospitalares e incorporar uma visão ecoepidemiológica mais ampla e sistêmica.

 

Referência:

Dewi, I. M. W., et al. (2021). Invasive pulmonary aspergillosis associated with viral pneumonitis. Current Opinion in Microbiology, 62, 21–27. https://doi.org/10.1016/j.mib.2021.04.006

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