*Por Henrique Cury e Manoel Gameiro
Em tempos de pandemia, muito tem se falado de novas tecnologias para descontaminação do ar em ambientes internos. Isso porque a prevenção às contaminações, por fungos, bactérias ou vírus, no caso da COVID-19, é melhor e mais econômica do que remediar esse tipo de situação. Nesse sentido, as principais tecnologias oferecidas pelo mercado são a luz UV, fotocatálise e o ozônio.
A tecnologia de descontaminação por meio de luz UV-C ou luz ultravioleta germicida (UV-C 100 a 280 nm sendo 253.7 nm a mais comum) consiste na instalação de lâmpadas no equipamento de ar-condicionado, mais especificamente na serpentina evaporadora do equipamento, para eliminação do bio-filme (vírus, colônia de fungos e bactérias) que cresce com a umidade e temperatura elevadas principalmente quando o equipamento está desligado impregna a mesma.
Diversos estudos comprovam que, se usada na intensidade correta (ASHRAE estabeleceu níveis mínimos de irradiação de 50-100 μW / cm² na face da serpentina) são capazes de eliminar a carga microbiológica presente no sistema, trazendo, além dos benefícios á saúde, vantagens econômicas devido à dispensa da limpeza com uso de produtos químicos da serpentina e manutenção da performance de troca de calor da mesma, que poderia ser afetada em até 37% para um biofilme de 0,002” .
É importante observar que o uso da luz UV influi diretamente na melhor higienização do equipamento e consequentemente do ar que passa por ele, mas não possui efeito na descontaminação das superfícies e no ambiente tratado.
A tecnologia da fotocatálise consiste na produção de oxidantes naturais baseados em oxigênio e hidrogênio, sendo o principal deles o Peróxido de Hidrogênio (H2O2). Este gás natural e inócuo é produzido através de células fotocatalíticas instaladas nos dutos de ar-condicionado ou através de equipamentos portáteis instalados nos ambientes.
Várias são as vantagens da fotocatálise, entre elas a descontaminação microbiológica constante nos ambientes sem produção residual de ozônio, como a tecnologia IRC- Ionização Rádio Catalítica.
Essa tecnologia passou por testes em laboratórios homologados pelo FDA seguindo os protocolos por ele recomendados que comprovaram a redução de 99,999 % do vírus MS2, de mesma estrutura celular do COVID-19, em 30 minutos comprovando a sua eficiência no combate a esse tipo de microrganismo.
Ela também possui estudos de validação dos mais renomados órgãos nacionais como o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicos).
É importante ressaltar que o grande desafio da fotocatálise é o seu dimensionamento. Sua eficiência está diretamente ligada ao dimensionamento realizado pelo critério das empresas fornecedoras.
Como o peróxido de hidrogênio é produzido com a ajuda da umidade ambiente, células que possuem coberturas hidrofílicas tem maior capacidade de produção.
A fotocatálise é uma tecnologia disruptiva e com comprovada eficácia na inativação de vírus, fundos e bactérias no ambiente e nas superfícies, portanto um grande aliado no combate ao Covid-19
Outra tecnologia disponível é a que atua na descontaminação por meio do ozônio. Quando se fala de descontaminação por tecnologia ativa, surge o questionamento sobre a segurança de soluções que usam ozônio.
O gás ozônio é formado por três moléculas de oxigênio (O3) e é sabido que tem papel fundamental na proteção da Terra contra a incidência dos raios UV. Da mesma forma, o ozônio é um excelente oxidante, reduzindo consideravelmente os microrganismos em ambientes internos, quando utilizado de forma correta.
Por apresentar características oxidativas, agindo sobre alguns Compostos Orgânicos Voláteis e promovendo a descontaminação, quando utilizado em altos níveis, o ozônio pode ser prejudicial à saúde. Dessa forma, o EPA permite exposição máxima de 0,05 ppm (partes por milhão) ao gás.
Já o OSHA (Ocuppational Safety and Healthy Administration) do Departamento de Trabalho dos Estados Unidos (correspondente ao Ministério do Trabalho no Brasil) permite exposição máxima de 0,1 ppm (partes por milhão) de ozônio em ambientes de trabalho durante permanência máxima de 8 horas diárias.
No Brasil, o Ministério do Trabalho, através da Norma Regulamentadora (NR 15), indica, no Anexo 11, exposição máxima de 0,08 ppm (partes por milhão) para jornadas de trabalho de até 48 horas por semana e ainda classifica o ozônio com grau de insalubridade máximo no caso de sua caracterização.
Existem empresas que utilizam o ozônio para descontaminação em ambientes desocupados, com resultados excelentes. Como a meia-vida do ozônio é muito curta, não existe residual após sua aplicação e ventilação adequada do ambiente. O uso de ozonizadores em ambientes ocupados só é recomendado quando há o monitorado constantemente, cuidando para que não sejam ultrapassados os níveis estipulados pelos órgãos públicos.
Vale lembrar que as questões de descontaminação do ar usando ozônio não tem nenhuma relação com tratamentos chamados de “Ozonioterapia”, que é definido pelo Ministério da Saúde prática que utiliza a aplicação de uma mistura dos gases oxigênio e ozônio, por diversas vias de administração, com finalidade terapêutica, já utilizada em vários países como Itália, Alemanha, Espanha, Portugal, Rússia, Cuba, China, entre outros, há décadas. Alguns setores de saúde adotam regularmente esta prática em seus protocolos de atendimento, como a odontologia, a neurologia e a oncologia, dentre outras, mas não há relação desse tipo de tratamento com o tratamento do ar.
Não há dúvidas que a pandemia do COVID-19 vai modificar o olhar mundial sobre a questão da prevenção das contaminações. Uma nova cultura global de atenção com o saneamento, a higiene e a descontaminação tem sido evidenciada e, muito provavelmente fará parte de nosso cotidiano daqui em diante. Nesse novo cenário, estaremos preparados para atuar de forma preventiva e colaborar com essa retomada.
Henrique Cury é membro do Qualindoor, Departamento Nacional de Qualidade do Ar Interno da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento – ABRAVA, membro do comitê de qualidade ambiental do Green Building Council Brasil (GBC Brasil) e do comitê 5 da FAIAR – Federación Iberoamericana de Calidad de Aire Interior, além de diretor geral da Ecoquest.
Manoel Gameiro é formado em Engenharia Mecânica pela FEI, com especialização em refrigeração e ar condicionado. Foi Presidente do GBC Brasil e atualmente faz parte do conselho consultivo. Foi Diretor no Chapter da ASHRAE Brasil e vice-presidente de Eficiência Energética e de Tecnologia na ABRAVA, onde atua como Delegado de assuntos relacionados a construção sustentável. Também é parte da equipe da Ecoquest na área comercial e de novos negócios.