Pesquisadores retiram amostras para estudar como as pessoas “colonizam” espaços.
DO “NEW YORK TIMES”
Um dos últimos ecossistemas ainda pouco explorados do mundo surgiu a duas quadras a leste de um centro comercial em Longmont: uma residência térrea que ganhou o codinome Q.
Noah Fierer, 39, microbiólogo da Universidade do Colorado em Boulder e “historiador natural dos piolhos”, segundo sua própria descrição, entrou na casa e se juntou aos pesquisadores que já estavam ali. Um deles esfregava superfícies com pedaços de algodão estéril. Outros anotavam os materiais encontrados em dois aparelhos para coleta de amostras de ar: fibras de vestimentas, pelos de cachorro, flocos de pele, material particulado e vida microbiana.
Ecologistas como Fierer começaram a estudar um mundo íntimo e pouco examinado que mal existia 100 mil anos atrás: o dos espaços fechados. Eles querem saber o que convive conosco e como “colonizamos” espaços com vírus, bactérias e micróbios. Eles descobriram que as residências contêm assinaturas ecológicas identificáveis de seus habitantes humanos. Até mesmo cachorros exercem influência importante nas minúsculas formas de vida que vivem sobre nossos travesseiros e nas telas de nossos televisores.
Quando os ecologistas tiverem identificado mais profundamente as espécies que vivem em espaços internos, eles esperam criar estratégias para administrar imóveis residenciais, eliminando espécies nocivas e fomentando as que fazem bem à saúde.
Mas, segundo Fierer, o primeiro passo consiste em simplesmente fazer um censo de tudo o que já convive conosco. Apenas depois será possível começar a estudar os efeitos dos organismos. “Primeiro precisamos saber o que está ali. Se você não sabe, está perambulando na selva de olhos vendados.”
Além da fauna carismática observada comumente nos lares norte-americanos -cães, gatos e peixes-, formigas, baratas, gafanhotos, ácaros e milhões de micróbios, incluindo centenas de espécies multicelulares e milhares de unicelulares, também vivem muito bem em nossas casas.
Fierer formou uma parceria com o biólogo Rob Dunn, da Universidade North Carolina State, para obter amostras da fauna microbiana de 1.400 residências nos EUA. Conhecido como “A Vida Selvagem de Nossa Casa”, o projeto depende de voluntários que esfregam com algodão fronhas e tábuas de cortar alimentos e depois enviam as amostras para análise.
“Ao longo de toda a história da humanidade, criamos ambientes à nossa volta -e em nosso cotidiano- de maneira não intencional. O controle que exercemos é sobretudo um em que matamos os organismos que podem ser nocivos”, explicou Dunn. “Isso já salvou muitas vidas. Mas também favoreceu uma gama enorme de espécies sobre as quais sabemos muito pouco.”
É o caso de uma cozinha como outra qualquer. Em um estudo publicado no periódico “Environmental Microbiology”, o laboratório de Fierer examinou 82 superfícies em quatro cozinhas de Boulder. Predominaram espécies associadas à pele humana, como a Staphylococcaceae ou a Corynebacteriaceae. Foram encontrados sinais de solo e de espécies associadas a hortifrutigranjeiros crus. Micróbios -incluindo espécies de Sphingomonas, conhecidas pela capacidade de sobreviverem nos locais mais tóxicos- estavam presentes num tipo de selva sobre a torneira. O laboratório de Fierer também encontrou alguns potenciais patógenos, como o Campylobacter, escondidos nos armários.
A maioria dos habitantes é relativamente benigna. De qualquer maneira, erradicá-los não é possível e nem desejável.
No primeiro estudo que a equipe realizou em 40 residências na Carolina do Norte, divulgado no periódico “PLoS One”, os cientistas constataram que os humanos deixam bactérias quando tocam superfícies com sua pele exposta.
Além disso, à temperatura ambiente, um humano saudável ao andar eleva uma “nuvem convectiva” de cerca de 37 milhões de bactérias por minuto, que se dispersam pela casa e podem sobreviver por longos períodos.
O esforço para catalogar os habitantes dos espaços fechados teve início em 2004, quando Paula J. Olsiewski, diretora de programa da Fundação Alfred P. Sloan, em Nova York, lançou um chamado para que edifícios fossem examinados numa linha de defesa contra o bioterrorismo. A fundação já disponibilizou US$ 28 milhões para projetos, um dos quais, o Projeto Microbioma Hospitalar, envolve a coleta de amostras do material dos narizes, axilas, mãos e fezes de pacientes, além de estações de enfermeiras e dez quartos para pacientes recém-construídos -um total de 12 mil pedaços de algodão com amostras de material.
Prevista para durar um ano, a pesquisa visa encontrar soluções para uma preocupação urgente: de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, um em cada 20 pacientes contrai infecções em hospitais.
Via Portal Qualindoor