A pandemia da Covid-19 trouxe à tona uma discussão por muito tempo deixada de lado: a qualidade do ar que respiramos em ambientes fechados. Escritórios, escolas, hospitais e outros edifícios podem abrigar microrganismos e poluentes invisíveis que afetam a saúde das pessoas. Diante disso, instituições e especialistas passaram a rever os padrões de ventilação e purificação do ar em busca de ambientes mais seguros.
A recomendação de 30 CFM por pessoa: o estudo de Harvard
Em 2022, o Dr. Joseph Allen, da Harvard T.H. Chan School of Public Health, coassinou um relatório que propunha novas recomendações para a qualidade do ar em espaços internos. O documento, intitulado Proposed Non-infectious Air Delivery Rates (NADR), vai além do combate a doenças infecciosas: alerta também para a exposição contínua a poluentes do ar, fumaça de queimadas e toxinas em suspensão.
Segundo o estudo, para que um edifício seja considerado saudável, é necessário garantir uma taxa mínima de 30 CFM (pés cúbicos por minuto) de ar limpo por pessoa — cerca de 51 m³/hora. Esse valor está acima do que muitos edifícios praticam hoje e sinaliza uma mudança de paradigma na forma como planejamos os ambientes em que vivemos e trabalhamos.
Adoção do padrão pela ASHRAE: um novo referencial global
A proposta de Allen ganhou força internacional. Em 2023, a ASHRAE (Sociedade Americana de Engenheiros de Aquecimento, Refrigeração e Ar-condicionado) publicou o novo Standard 241, focado na redução da transmissão de doenças infecciosas pelo ar. Entre as diretrizes, destaca-se a incorporação do conceito de “fluxo de ar limpo equivalente” e a confirmação da importância dos 30 CFM por pessoa em locais com alta ocupação ou sensíveis do ponto de vista sanitário.
O que mais caracteriza um edifício saudável em termos de ar?
Além da ventilação adequada, edifícios saudáveis combinam uma série de estratégias para garantir ar limpo e seguro:
- Monitoramento contínuo da qualidade do ar
Sensores instalados nos ambientes permitem avaliar em tempo real indicadores como:
- CO₂ (dióxido de carbono): altos níveis sugerem má ventilação.
- Partículas em suspensão (PM2.5 e PM10): associadas a doenças respiratórias e cardiovasculares.
- COVs (Compostos Orgânicos Voláteis): gases emitidos por tintas, colas e produtos de limpeza com potencial tóxico.
2. Controle da umidade relativa
Manter a umidade em torno de 60% é fundamental para evitar mofo, ácaros e bactérias. Ambientes muito úmidos ou muito secos afetam materiais e a saúde dos ocupantes.
3. Purificação ativa do ar
Tecnologias como a fotohidrólise e a radiação UV-C eliminam microrganismos diretamente no ar, mesmo com o ambiente em uso. São mais eficazes do que apenas filtrar o ar e complementam os sistemas tradicionais.
4. Redução das fontes internas de poluição
A escolha de materiais impacta a qualidade do ar. Edifícios saudáveis evitam:
- Móveis e carpetes que liberam formaldeído;
- Produtos de limpeza com solventes agressivos;
- Tintas e adesivos com compostos tóxicos. O ideal é optar por itens com baixa emissão de VOCs.
5. Ventilação natural e elementos biofílicos
Projetos que favorecem a ventilação cruzada e a entrada de luz natural ajudam a renovar o ar. A integração com jardins e o uso de plantas nos ambientes também melhora a qualidade do ar e promove bem-estar.
Os benefícios de investir em um edifício saudável
A má qualidade do ar pode prejudicar o desempenho cognitivo, aumentar o número de faltas por doenças e elevar o risco de problemas respiratórios. Por outro lado, edifícios que priorizam o ar limpo colhem benefícios como:
- Redução de até 30% nos afastamentos por doenças;
- Aumento significativo na produtividade e no foco dos ocupantes;
- Menor desgaste de móveis e menor incidência de mofo;
- Valorização imobiliária e maior procura por parte de usuários.
Um novo padrão para empresas e cidades
Com a disseminação de normas como a da ASHRAE, cresce também o papel das empresas e dos gestores prediais na criação de ambientes mais seguros. Investir na qualidade do ar é, hoje, uma decisão estratégica. Trata-se de cuidar da saúde pública, promover bem-estar e garantir eficiência nos espaços de trabalho e convivência.
Seja com ventilação adequada, sensores inteligentes ou tecnologias avançadas de purificação, os edifícios do futuro já começaram a ser construídos — e o ar que se respira neles faz toda a diferença.