Academias: o que a ciência recente revela sobre riscos microbiológicos

18 de setembro de 2025

Entrar em uma academia é, para muitos, sinônimo de saúde, disciplina e autocuidado. Mas por trás do suor e da energia dos treinos, existe um aspecto frequentemente negligenciado: a qualidade microbiológica desses ambientes.

Academias são espaços fechados, de alta circulação de pessoas, onde o contato físico com equipamentos é intenso e a ventilação muitas vezes é insuficiente. Essas condições favorecem não apenas o acúmulo de suor e sujeira visível, mas também a presença de microrganismos invisíveis — bactérias, fungos e até genes de resistência a antibióticos.

Nos últimos anos, dois estudos amplos, revisados por pares e publicados em revistas científicas de prestígio trouxeram novas evidências sobre o que realmente se encontra em academias.

Um deles, publicado em 2023 na Frontiers in Microbiology, analisou superfícies de equipamentos e revelou a presença de bactérias resistentes a antibióticos.

O outro, divulgado em 2024 na Environmental Pollution, investigou 39 academias portuguesas e encontrou uma diversidade preocupante de fungos e micotoxinas no ar e na poeira.

Esses trabalhos representam um avanço em relação a relatórios antigos e pouco robustos que circulavam na mídia — como o famoso estudo da FitRated de 2016, que comparava halteres a privadas sem base científica sólida.

Agora, a ciência oferece dados mais consistentes sobre os riscos a que estamos expostos nesses espaços.

 

O estudo chinês: superfícies como reservatórios de bactérias resistentes

O estudo publicado na Frontiers in Microbiology (2023) teve como objetivo investigar o nível de contaminação em equipamentos de ginástica de contato direto, como halteres, barras e máquinas de musculação. Diferentemente de relatórios simplistas, os pesquisadores adotaram uma abordagem sofisticada: coletaram amostras em academias chinesas e aplicaram técnicas de sequenciamento de DNA (16S rRNA), culturas microbiológicas e testes de resistência a antibióticos.

Os resultados chamam a atenção. As superfícies apresentaram alta diversidade bacteriana, com destaque para gêneros como Staphylococcus e Enterobacter. Mais preocupante, porém, foi a detecção de cepas de Staphylococcus haemolyticus multirresistentes, capazes de sobreviver a vários antibióticos comuns, incluindo β-lactâmicos, macrolídeos e tetraciclinas.

Na prática, isso significa que um usuário que tenha pequenas lesões na pele — comuns em treinos intensos — pode estar exposto a microrganismos capazes de causar infecções difíceis de tratar. O risco não se limita a infecções leves: para pessoas com imunidade comprometida, essas bactérias podem representar ameaças sérias. O estudo conclui que academias funcionam como reservatórios urbanos de resistência antimicrobiana, ampliando o potencial de disseminação comunitária.

 

O estudo português: fungos e micotoxinas no ar das academias

Se o estudo chinês trouxe luz para os riscos de contato direto com superfícies, o estudo português, publicado em 2024 na Environmental Pollution, destacou a dimensão aérea da contaminação. Trata-se de uma das pesquisas mais abrangentes já feitas, avaliando 39 academias em diferentes regiões de Portugal.

Os cientistas usaram coletores eletrostáticos de poeira (EDCs), capazes de capturar partículas suspensas no ar e microrganismos aderidos. A análise revelou uma grande diversidade de fungos, incluindo espécies de Aspergillus e Penicillium. Algumas dessas espécies são conhecidas pela produção de micotoxinas, substâncias tóxicas que podem afetar o fígado, os rins e o sistema imunológico.

Os riscos apontados são claros:

  • Frequentadores podem desenvolver ou agravar problemas respiratórios como asma, rinite alérgica e bronquite.
  • Há risco de exposição cumulativa a micotoxinas, que mesmo em pequenas doses podem causar efeitos a longo prazo.
  • Grupos vulneráveis — asmáticos, crianças, idosos — são os mais afetados.

Um detalhe curioso do estudo foi a observação sobre práticas de limpeza: os pesquisadores alertam que o uso de mops (esfregonas) pode, em vez de reduzir a contaminação, espalhar esporos e micotoxinas pelo ambiente, ampliando a contaminação cruzada. Essa constatação reforça a importância de protocolos adequados de higienização e ventilação, que vão além da limpeza visual.

 

O papel da ventilação

Outro ponto relevante do estudo português foi a associação entre ventilação e presença de fungos. Academias com sistemas de ventilação mais eficazes — capazes de renovar o ar e reduzir a concentração de partículas — apresentaram níveis mais baixos de contaminação. Já ambientes com ventilação precária acumularam mais fungos e, consequentemente, riscos maiores para a saúde respiratória dos frequentadores.

Esse achado conecta-se com discussões mais amplas sobre qualidade do ar interno. Em locais de alta ocupação, como academias, a ventilação adequada não é apenas uma questão de conforto térmico, mas de saúde pública.

 

Dois lados do mesmo problema

Ao analisarmos os dois estudos em conjunto, fica evidente que a segurança microbiológica de academias envolve dois riscos complementares:

  • Superfícies contaminadas com bactérias (inclusive resistentes) → risco de infecções agudas por contato.
  • Ar e poeira carregados de fungos e micotoxinas → risco de problemas respiratórios crônicos e sensibilização alérgica.

Ambos os cenários revelam que frequentadores de academias estão expostos a microrganismos invisíveis que, dependendo do estado de saúde individual, podem causar desde desconfortos até doenças graves.

 

Conclusão

A prática regular de exercícios traz inúmeros benefícios à saúde, mas a ciência mostra que ignorar a qualidade microbiológica das academias é um erro. Os estudos recentes da Frontiers in Microbiology (2023) e da Environmental Pollution (2024) fornecem evidências sólidas de que esses ambientes podem abrigar tanto bactérias resistentes quanto fungos produtores de toxinas.

A mensagem não é abandonar a academia, mas sim exigir melhores padrões de higienização e ventilação. Frequentadores devem estar atentos, usar toalhas, higienizar as mãos e, sempre que possível, optar por academias que adotem protocolos claros de limpeza e monitoramento da qualidade do ar.

Em última análise, esses trabalhos mostram que saúde e segurança nas academias não podem se restringir ao treino físico: devem incluir também o cuidado com o ‘ambiente invisível’ que respiramos e tocamos.

 

Sobre a Ecoquest

A Ecoquest é referência em tecnologias de purificação de ar e controle de contaminação em ambientes internos. Atuamos com soluções inovadoras e seguras para empresas de diferentes segmentos, incluindo academias, hotéis, escritórios e hospitais. Nosso portfólio inclui sistemas capazes de reduzir odores, vírus, bactérias e fungos, em suspensão no ar e em superfícies, contribuindo para ambientes mais seguros, saudáveis e confortáveis.

 

 

Fontes:

https://www.frontiersin.org/journals/microbiology/articles/10.3389/fmicb.2023.1182594/full

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0269749124006900

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